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UPGRADE: Quando os casos são expostos

Infelizmente, a maioria dos casos de assédio e preconceito sofrido por mulheres nos jogos não são expostos (salvo por algum tipo de sistema de denúncias após partidas), seja por vergonha ou por medo de retaliação. Durante a apuração desta matéria, entrevistamos uma streamer que procurou nossa equipe para não publicarmos o material, por medo de algum tipo de vingança. O fato dessas situações não serem mostradas de forma mais ampla gera uma falsa sensação de que elas não ocorrem. 

 

Um de nossos repórteres realizou a experiência de jogar uma partida de League of Legends® (o MOBA online mais jogado do mundo) com um nick feminino . O nickname foi o trocadilho com o nome de dois personagens suportes femininos do jogo. Para a comunidade do LoL (como é mais chamado), mulheres tendem a jogar mais com esse tipo de personagem pela “facilidade” dos mesmos. Durante a partida, nosso repórter jogou inicialmente mal, mas acabou tendo um bom rendimento. Contudo, um outro jogador, por achar que era uma mulher, começou a proferir diversos xingamentos, como “fraca”, “limitada”, “fraquejada” (em referência à fala do Presidente da República Jair Bolsonaro), entre outros. Confira nas imagens abaixo.

Jogadores da ROX não esconderam a atitude negativa no pick e ban contra o time da Vaevictis Esports — Foto: Reprodução/Twitch Riot Russia

Ainda no “LoL”, em 2019, durante a League of Legends Continental League (LCL), uma das ligas europeias do e-sport, o Vaevictis, primeiro time formado somente por mulheres a chegar em uma competição à nível profissional, sofreu preconceito dos times com o qual jogou contra. No primeiro, a equipe adversária ROX baniu da seleção apenas personagens suportes, já o time Vega Squadron, prolongou de forma proposital a partida, o que para a desenvolvedora do jogo, RIOT Games, configurou como atitude antidesportiva. A punição por parte da organização foi apenas uma advertência para ambos os times (ROX e Vega).

 

No Brasil, em 2018, a gamer  Lara "LittleVelma" Lauer estava transmitindo uma partida de Rainbow Six Siege® (um jogo de First-person Shooter - FPS) e usando o sistema de chat por voz do jogo. Na live, um membro da equipe aliada da jogadora, ao notar que tinha uma mulher no time, matou o personagem de Lara e disse proferiu ofensas, como “é mulher? Vagabunda”. No vídeo é possível observar a reação da streamer, primeiro por nenhum amigo defendê-la e, depois, por ter sido eliminada do jogo por um companheiro de time. Ao final da live, “LittleVelma” não se conteve e chorou.

As streamers (profissionais que trabalham fazendo transmissão de jogos) são cada vez mais alvos de ataques durante suas lives. A estudante de psicologia e streamer Rafaela “Rawrafaela” Martins, 21, sofreu um caso de assédio com várias mensagem de cunho sexual e pejorativo, apesar disso ela continua com suas lives, lutando contra o preconceito. Outra streamer, que preferiu não se identificar, teve seu streaming invadido pela “tropa do nebulo”, que a ameaçou de estupro e mandou varrer a casa.

 

Streamers sofrem ataques durante suas transmissões. Fonte: reprodução internet (Clique para aumentar)

A estudante de publicidade e streamer da Twitch (plataforma de transmissão de jogos), Mariana “MariCrods”, 24, começou sua vida no universo gamer muito cedo, começou jogando um Nintendo e aos 15 anos, quando ganhou o seu primeiro computador, começou a descobrir o lado obscuro dos jogos. Após alguns anos afastada dos games, ela retornou em 2016 , como uma forma de ajudá-la a combater a ansiedade, mas nunca pensou que sofreria nenhum tipo de preconceito. 

MariCrods. Fonte: Arquivo Pessoal.

Ela teve o primeiro contato com essas atitudes durante uma partida de League of Legends®, em que mesma estava na posição de suporte e durante a partida perguntaram se “era mulher”, julgando a jogabilidade dela Mariana recebeu mensagens de insultos, como “tinha que ser mulher”; “vai lavar roupa”; entre outras ofensas, quando seu amigo tentou intervir, ele sofreu com piadas machistas, como “gado demais” (Gado Demais, é uma expressão utilizada principalmente na Internet para definir os homens que malham apenas para conseguir conquistar mulheres. Depois, seu uso foi se ampliando, sendo usado para falar sobre homens que fazem qualquer coisa para conseguir ficar com uma mulher).

Momento em que o aliado persegue MariCrods, somente por ela ser mulher. Fonte: Twitch MariCrods

Em Valorant®, um jogo de FPS lançado neste ano pela RIOT GAMES, ocorreram muitas denúncias por parte de jogadoras no Twitter sobre casos de assédio e preconceito contra mulheres, e Mariana foi uma delas. Em entrevista à nossa equipe, ela relata que em uma partida um jogador começou a dar rage (termo do inglês, que significa um ataque de raiva que geralmente ocorre entre gamers após perderem numa partida online) nela por meio do chat de voz Mariana silenciou o agressor e seus amigos começaram a defendê-la, mas o jogador começou a seguir a personagem de “MariCrods” no mapa do jogo, atirando, pulando e fazendo barulho para chamar atenção do time inimigo e localizá-la para que fosse eliminada, e em alguns momentos ele ficou de frente para ela e “atirou” em sua personagem (em Valorant não é possível ferir alguém do time inimigo). Apesar de todas essas situações, Mariana não se deixa abater, seus pais a incentivam na carreira de streamer, chegando até mesmo a ajudar a preparar algumas lives. 

Confira a entrevista com a streamer Mariana MariCrods

© 2020 by Diuly Moreira e Gabriel Chaves. 

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